“Quando for atirar, atire, não fale”.
Em Três Homens em Conflito, Leone constrói cuidadosamente cada imagem, como se estivesse pintando um grande quadro. Leone se mostra excepcionalmente criativo para construir longas tomadas sem cortes, criando tensão e atmosfera a partir da contraposição de tomadas panorâmicas de beleza tensa e dramática, na maioria das vezes paisagens com personagens minúsculos e close-ups de rostos rígidos e queimados pelo sol que revelam muito mais do que os olhos dos personagens, esse talento transforma o filme em uma verdadeira experiência de imagens e sons inesquecíveis.
Ao contrário da maioria do gênero, os personagens de Leone são sujos, feios e sangram de verdade. Os protagonistas falam pouco, mas seus gestos e olhares dizem tudo.
Nos faroestes de Leone, os personagens não costumam atirar pra tudo quanto é lado. O diretor construía um duelo longo e sua grande preparação, são minutos de espera pelo primeiro disparo. Antes do revólver disparar, os personagens se analisam por inteiro e o silêncio só não toma conta do filme graças à fenomenal trilha sonora do grande Ennio Morricone que ganha intensidade na medida em que se seguem os cortes rápidos de um rosto para o outro capturando cada olhar tenso e cada mão buscando o revólver.
No começo do filme é revelado quem é o bom, o mau e o feio, mas com o desenrolar da trama percebemos que todos são bons, maus e feios, todos são humanos… Mas descobrimos que apesar de trambiqueiro e assassino, o homem sem nome guarda alguma bondade dentro de seu coração, como na cena em que o mesmo, mostra uma certa compaixão por um combatente que está aos pés da morte. A ganância pelo ouro revela o pior de cada um, mas comparados ao horror da Guerra Civil, os três são mocinhos. Grande contraste entre as relações humanas de amor e ódio.
Da abertura ao primeiro diálogo, temos cerca de 10 minutos de silêncio. Nenhuma palavra é ouvida. É a criatividade de Leone ao construir uma narrativa baseada apenas na imagem, som e música. Outra cena que destaca o talento de Leone é quando o feio corre pelas lápides ao som de The Ecstasy of Gold, de Ennio Morricone. Simplesmente fantástico, o efeito provocado em quem assisti é permanente e memorável e sua beleza rígida, intensa. Uma viagem ofegante dos limites do oeste ao ápice da violência.
O filme é de um estilo que dispensa palavras, muitas vezes um pequeno desvio de câmera revela uma nova e surpreendente perspectiva. Outra técnica interessantissima usada no filme é que os personagens não vêem (assim como nós) o que está fora do enquadramento. Assim a todo momento eles são surpreendidos por tiros ou balas de canhões que, normalmente, seriam vistas ao lado.
O filme ainda contém tiradas econômicas para oferecer ao espectador uma visão arrasadora da terra devastada dos EUA, debatendo sobre a brutalidade ineficaz da Guerra Civil. Testemunhamos a ação como os próprios personagens enxergam aquele mundo.
Uma obra prima eterna e revolucionária, que é com grande estilo homenageada por grandes cineastas da atualidade principalmente pelo queridinho Tarantino. Nesse filme testemunhamos o bom gosto, a inventividade e o controle confiante de Leone nos processos de criação de uma obra prima.
Nota 9,5.
Escrito por RoDolFo
Leone era o mestre dos movimentos de câmera, dos closes, dos planos longos. Seus personagens são homens calculistas, homens que sabem o que querem e não desistem facilmente. Aqui ele supera seus filmes dos “dólares”. Anos depois se superaria ainda mais com sua obra-prima máxima: Era uma Vez no Oeste.
“Leone se mostra excepcionalmente criativo para construir longas tomadas sem cortes, criando tensão e atmosfera a partir da contraposição de tomadas panorâmicas de beleza tensa e dramática, na maioria das vezes paisagens com personagens minúsculos e close-ups de rostos rígidos e queimados pelo sol que revelam muito mais do que os olhos dos personagens…”. Fascinante esse trecho.
Texto sublme.
Meu primeiro Faroeste.
Uma verdadeira aula de se fazer cinema. Obra – Prima.
Nem preciso dizer que me fez assisti-lo. rsrs
Andinhu.
Seu primeiro faroeste, Anderson?
Faroeste é meu gênero preferido. Alguns faroestes que te recomendo:
Matar ou Morrer, Era uma Vez no Oeste, Meu òdio Será sua Herança, Rastros de Ódio, Johnny Guitar, Onde Começa o Inferno, Rio Vermelho, No Tempo das Diligências, Paixão de Fortes, Winchestr 73, Galante e Sanguinário, Sem Lei Sem Alma, O Homem dos Olhos Frios, Os Imperdoáveis, Minha Vontade é a Lei, O Homem do Oeste, Estigma da Crueldade, Da Terra Nascem os Homens, Dívida de Sangue, Sete Homens e um Destino, E o Sangue Semeou a Terra, Meu Nome é Ninguém, Flechas de Fogo, Duelo de Titãs, O Estranho Sem Nome.
Foi sim Kley. assisti esses e Os Imperdoáveis. Vou ver se assisto esses que tu falou, alguns eu já queria mesmo assistir como Era uma Vez no Oeste e Meu ódio Será sua Herança.
Vlw
kley , onde você consegue pegar todos estes filmes ?
Tem um site português muito bom Kleber. My one thousand movie. Recomendo!
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