“O coração é um fardo pesado”
O castelo animado é uma obra de arte sobre mudanças. Com personagens extraordinários e humanos e um mundo fantástico. É resumidamente, uma história de amor em que a protagonista descobre sua força para vencer as dificuldades, redescobrindo o próprio eu e assim trazendo novos ideais e mudanças para os personagens que encontra. Uma animação fantástica que completa a carreira do grande Miyazaki, explode inventividade e originalidade (afinal dizer que os filmes de Miyazaki não são originais é o mesmo que dizer que os do Tarantino não são violentos).
Os desenhos feitos a mão pelo Myazaki (“porque o computador, ainda que seja bom, enfraquece a força da mensagem”), são exuberantes, a mistura da tecnologia 3D e 2D feitas no castelo é de encher os olhos, além disso técnica é apenas um detalhe o que realmente importa é a história, e nesse ponto os filmes de Myazaki são infinitamente mais sofisticados que as animações dos grandes estúdios. Melhor em como a história é conduzida, melhor no conceito, na idéia básica, roteiro, narrativa, emoção e a grande mensagem que passa aos espectadores, mas é pior em marketing e por isso não recebe a atenção devida nem da mídia, nem dos espectadores.
O filme é de grande criatividade e também de complexidade e também expressivo. Já na primeira aparição de Sophie percebemos que ela vive em um mundo onde se destaca a beleza física, e ela não possui tal “beleza” nesse mundo onde a vaidade predomina. È então que Sophie é enfeitiçada e ganha à aparência de uma velha. É nessa hora que Sophie decide fugir daquele meio, descobrir novos horizontes, fugir daquela monotonia e superficialidade da vaidade e descobrir o seu verdadeiro caráter. É aí que começa uma viagem inesquecível, uma viagem sobre redescobertas e mudanças.
A narrativa de Miyazaki se baseia nas emoções reais e conflitantes de seus personagens tão fascinantes. Miyazaki, por meio da expressão e imaginação, mostra a vida como ela é, não como gostaríamos que fosse, as contradições da vida tem representações mágicas nessa arte singular de Miyazaki. Ele não ilude, ele encanta. A beleza e espontaneidade das cores e do tratamento com as emoções humanas é algo de incrível fascínio.
Miyazaki nos dá direito a sonhar com pureza, dignidade e emoção, sem apelar para formulas fáceis é claro. Ele nos faz viver em seus delírios, e é tudo tão maravilhoso, indescritível, humano e real.
É interessante notar no filme os preconceitos que a população tem com os feiticeiros e bruxas, e que depois Sophie descobre o lado humano e real de Howl e da Bruxa da terra abandonada. Os conceitos enganosos sobre essa classe diferente que são os feiticeiros e bruxas, conceitos totalmente destruídos guando vivemos com eles seus conflitos tão reais e humanos.
O castelo animado é um debate sobre a dificuldade, mas também a alegria que é entender o que individualmente somos e nos aceitar assim como realmente existimos, os personagens estão prontos para a redenção e mudança que o caráter humano sempre precisa. O que realmente define nosso caráter?
Já dentro do castelo, Sophie descobre um novo mundo em cada janela. Mas tem um lugar especial em que ela se sente atraída, é um lugar de deslumbre profundo e que revela um pouco dela. Sophie se encontra e se descobre nesse jardim. Já Howl ainda se encontra confuso emocionalmente. A transformação de Howl parece ser uma ilusão, ele finge ser quem não é, e por isso quando ele se transforma por repetidas vezes e por muito tempo, essa ilusão pode se tornar real e o verdadeiro Howl, o humano confuso pode desaparecer dando lugar a aquela criatura parecida com uma ave. A guerra não é muito detalhada, mas Howl sofre com ela, a guerra parece ser os conflitos de Howl, seus medos, suas ilusões, suas frustrações, a vaidade destrutiva, a guerra materializa isso tudo.
Uma sequência divertida, profunda e bela é a subida na escadaria do castelo real, é lá que a Bruxa da terra abandonada mostra sua fragilidade, e Sophie, com muito esforço, dá o direito a redenção que a bruxa precisa. Ao contrario da Rainha que não dá chance para ninguém, é então que a guerra chega ao seu ápice de destruição, o inimigo maior é a intolerância.
Sophie traz novas perspectivas, ideais e valores para os personagens que encontra. Redenção e sensibilidade para a bruxa, humildade e coragem para Howl, enquanto o espectador reflete para si mesmo tais ideais e sentimos a magia e deslumbre das mudanças de cada personagem.
A cena linda e desvairada da mudança de casa é o ponto alto da maturidade dos personagens, sentimos a beleza e profundidade das redescobertas e uma nova vida chegando. Simpatia e profundidade dos personagens transformam os detalhes ainda mais fascinantes.
“Só se vale a pena viver se for belo.” O que é ser belo?A fragilidade estúpida da falsa vaidade é destacada na cena em que Howl derrete, essa superficialidade destrói Howl e a quem o envolve. Sophie fica aflita, mas a amizade renova tudo, é na amizade que ela encontra a força.
Quando somos apresentados no “jardim secreto” de Howl assistimos o caráter de Sophie refletido nas paisagens. Mas de repente Sophie esquece, mas uma vez de seu vigor juvenil e ela volta a ser velha, o medo transparece.
Já cena em que Sophie testemunha a infância de Howl é uma sequência devastadora e emocionante ao extremo. Ela descobre o verdadeiro coração de Howl, confuso e frágil, estava tão perto dela e ela finalmente consegue descobrir. É maravilhoso.
Uma experiência totalmente sonhada. Guiada pela espontaneidade, pelo amor nas suas formas distintas, guiada pelas descobertas e pela emoção, pura emoção. Uma emoção verdadeira e sincera, baseada no estudo dos sentimentos grandiosamente significativos. Um filme sobre redescoberta do próprio “eu”. Sobre virtudes de um coração saudável: amor, pureza, fidelidade, esperança, tolerância, e sobre uma nova visão em torno da vaidade.
O jogo de luz, as cores vivas que brilham em uma intensidade de beleza única, a nova e curiosa cultura apresentada, tudo isso faz que cada fotograma seja de intenso e puro prazer e magnitude.
Dizer que essa obra prima não é recomendada para crianças é uma hipocrisia, pois o publico infantil precisa de filmes expressivos, sinceros, divertidos e puramente emocionantes assim como esse. Em minha opinião o publico infantil é desmoralizado com filmes que se baseiam somente nas piadinhas e maniqueísmo barato ressaltando as lições de moral claras e estúpidas, o mercado já está lotado de filmes assim.
Não se engane com o final que talvez dê a impressão de ser irregular, lembre se que nas obras de Myazaki não existe final, mas sim um recomeço.
Vivemos com os personagens, encontramos a humanidade, as contradições e o amor que se encontram nos corações de todos eles, nos sentimos acolhidos pela ternura dos traços. Um filme único no quesito originalidade e delirante na beleza de cada cena, de cada traço. Sedutor e poderoso a ponto de transcender qualquer descrição.
“O coração instável é a única constante nesse mundo.”
Nota 9,7.
Este desenho é belíssimo.
Sensível, engraçado e emocionante, sem maniqueísmos simplistas desnecessários.
Sem dúvida, Miyazaki é um dos maiores mestres da animação mundial.
Até mais.
Obrigado pelas suas visitas e ter deixado sua opinião Jacques.
é uma animação belíssima mesmo.Com humor único, personagens de uma lindeza maravilhosa. Miyazaki não é nem um dos melhores, considero-o o melhor.
Até mais Jacques.
Desse diretor só assistí A Viagem de Chiriro, que é um filmão. Quero assistir mais obras dele.
Assisti esse filme ha um tempo atras, e ainda assim a beleza de seu mundo, seus personagens profundos, tudo criado por myiazaki nesse filme magico e cheio de mensagens eh lindo. Um filme recomendado tanto pr.o publico infantil ate o adulto, para se encantarem com sua magia
Ótima crítica e ótimo filme, assisti há pouco e tinha que vir dar uma olhada na opinião de outras pessoas e saber mais sobre ele! Concordo totalmente com as críticas e pontos levantados, é sem dúvida nenhuma um filme pra ninguém botar defeito!
Eu adoro esse filme! Sempre assisto e reassisto de novo e de novo. Parabéns pelas observações. Esse filme me passa uma mensagem tão boa e bonita